2014-04-18 18:00:02 Tribuna da Madeira

É “controle”, “controlo” ou “control”? Porquê?

A tecnologia facilita ou complica a vida? Considero que a simplifica. Porém, às vezes, complica tudo. Há dias, estava ao telefone (fixo, mas móvel porque sem fios), quando tocou um dos telemóveis. A campainha da porta deu sinal que estava alguém e o computador indicava que tinha um familiar à espera no SKYPE. Tive de reagir rapidamente. Acabei com a conversa que estava a ter pelo telefone fixo. Fui abrir a porta para saber quem era e o que queria. Retribuí a chamada do telemóvel e, por fim, dei sinal de vida a quem me ligava pelo SKYPE. Às vezes, ainda é pior! Com todos estes meios de comunicação, perde-se um pouco a tranquilidade. Controlamo-nos todos uns aos outros. Esta sensação não tem nada a ver com aquela da espionagem que organismos nacionais e internacionais fazem de forma secreta e que têm sido denunciadas. É mais um sentimento de interrogatório constante. Onde estás? Que estás a fazer? Para onde vais? Quando só havia um telefone (fixo, sem dar qualquer possibilidade de movimentação) parecia tudo mais fácil e menos esgotante. A sensação de ser controlada também não existia. A propósito de “controlar”, colocaram-me uma questão. Para o substantivo, diz-se “controle”, “controlo” ou “control”? Eu uso o verbo “controlar”, mas não me lembro de empregar o substantivo. Contudo, a questão é pertinente. Reflectir sobre tudo, incluindo usos linguísticos como este, é um exercício que aprecio bastante porque coloca problemas que continuarei, aqui, a propor. Isto não significa que saiba tudo ou que o assunto fique, na íntegra, resolvido. Resumidamente, esta questão parece-me ser do domínio da Morfologia, da Etimologia, da Lexicologia e da Lexicografia. Pensando automaticamente uns segundos, a resposta quase imediata que me ocorreu e que dei foi que o termo vem do Francês (“contrôle”) e que, portanto, se escreveria com “e” final. A possibilidade terminada em “l” não seria válida em Português e a que acabava em “o” deveria ser a variante aportuguesada. Senti que era importante verificar se a minha resposta não fora precipitada. Como, habitualmente, não emprego este substantivo, nunca tinha pensado sobre a sua ortografia, mas os lexicógrafos já deveriam ter colocado esta questão. É preferível escrever com “e” ou com “o”? Por que razão a vogal final será, aí, problemática? Como será que os dicionários do tira-dúvidas resolvem este assunto? Registarão as três possibilidades? Surgirão apenas as finalizadas em vogal? Haverá alguma divergência entre os dicionários portugueses e os brasileiros? Em nenhuma das sete obras do tira-dúvidas existe “control”. Portanto, esta possibilidade está excluída. O FIGUEIREDO não regista nenhuma das três grafias. O MACHADO considera válida apenas “controlo”, embora não a aconselhe por ser um galicismo. Com o AURÉLIO é, exactamente, o contrário, tendo só “controle”. O dicionário da PORTO EDITORA e o da ACADEMIA dão conta da existência das duas, considerando-as variantes. Todavia, porque optam por incluir a definição em “controlo”, indicam preferir esta à outra, finalizada com “e”. Ora, sucede o contrário com o HOUAISS. O dicionário da PRIBERAM dá a mesma definição para as duas ortografias, considerando-as “sinónimos”, inadequadamente, quanto a mim, porque não passam de variantes. É o mesmo vocábulo, mas tem duas grafias. O caso de “controle” e “controlo”, sendo insignificante, torna-se complicado pela divergência de opiniões dos dicionaristas. É, por isso, que aconselho a consulta de dois ou mais dicionários, quando tivermos dúvidas. Ao abrir apenas um, corremos o risco de pensar que, aí, está a “verdade” toda e, afinal, corresponde unicamente a parte dela. Neste caso, eu concordo com a opção do “e” final porque remete, imediatamente, para o vocábulo francês. Já sabemos que é fácil o que se entende e complexo, ou discutível, o contrário. Portanto, para um provável tira-teimas, nada melhor que um breve tira-dúvidas porque as dúvidas são o primeiro passo, mas não podem ser o último. Por que razão, “controle” é a ortografia a seguir para quem quiser utilizar este termo? Porquê? É porque o “e” final corresponde à grafia francesa, a origem deste vocábulo, e porque, em Português, também há muitos terminados com esta vogal (“implante”, “dente”, “estudante”, “se”, “lhe”, “livre”, “liberdade”, “mole”, etc.). Quem preferir não usar este galicismo que empregue um sinónimo. A mim, não me mete confusão. Se fôssemos evitar os galicismos, os anglicismos e outros empréstimos linguísticos, perderíamos muito léxico. Aliás, todas as línguas recorrem a este modo de enriquecimento lexical, inclusive o Francês e o Inglês. É sabido que uma língua falada vai vivendo ao sabor das necessidades e eu imagino mal como se pode substituir “torre de controle” ou “controle remoto”, no século XXI. Estamos, de novo, no âmbito das tecnologias, que são uma área propícia aos estrangeirismos. Dificilmente podemos abdicar deles e, sem elas, comunicar à distância torna-se dispendioso, o que é problemático. Ainda bem que há quem crie tecnologias, mas, quanto a mim, deveria fazer parte da equipa criativa um linguista para ajudar a nomear a novidade. Cortavam-se, assim, alguns problemas linguísticos pela raiz.

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